quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Birras, porque acontecem? 

Em diversas ocasiões nós nos deparamos com responsáveis de crianças de diferentes idades com queixas de birras frequentes. Diante de situações que se tornam constrangedoras, muitas vezes esses responsáveis ficam desesperados por não conseguirem agir diante de tal circunstância.   
Inicialmente é importante descrever o termo “birra” de forma objetiva. De acordo com os dicionários, a birra é caracterizada por ser uma insistência em permanecer no mesmo comportamento, na mesma opinião ou ideia, algo que contraria alguém.
O termo “birra” costuma ser bastante utilizado em nossa sociedade. Ele é utilizado para descrever comportamentos de crianças que não aceitam aborrecimentos, que talvez não consigam ouvir o que é negativo para elas no momento, ou seja, a birra é considerada como uma intolerância a frustração.



O que leva as crianças obterem tal conduta?

Muitas vezes, quando a criança quer ganhar algo, ou quer fazer com que os responsáveis façam algo por ela, elas costumam pedir de maneira normal. Às vezes, os pais condicionam a criança a ter o comportamento da birra sem ao menos ter ideia do que estão fazendo. Vamos entrar em mais detalhes através de um exemplo a seguir:   
Quando a criança quer conquistar algo dos pais, inicialmente tem o costume de pedir, pode ser algo bobo como brincar na porta de casa com os amigos. No momento em que a criança diz: “posso brincar lá fora?”, algumas vezes os pais vão dizer: “não”. Quando a criança ouve o “não”, a tendência é insistir para que o responsável permita, pois foi dito apenas o “não” de forma solta, sem nenhuma explicação dos motivos pelos quais não se é para ir brincar fora de casa. Certamente a criança irá utilizar voz manhosa, vai ser insistente fazendo pedidos incessantes, ou seja, ela vai fazer o que for possível para alcançar tal objetivo. Após esse tipo de comportamento,  o que temos visto na maioria das vezes são responsáveis que não aguentam tanta insistência e por fim acabam dizendo: “tudo bem, então vai.”.

Esses tipos de conduta que alguns pais ou responsáveis apresentam, inicialmente surtem um resultado positivo para elas, onde a criança interrompe suas insistências já que o objetivo que consistia em "brincar lá fora" foi  alcançado. E depois, o que acontece?  
Ao proferir a palavra "não" a uma criança, os responsáveis devem estar cientes das possíveis consequências que poderão surgir a partir de tal resposta e manterem-se firmes. A criança poderá chorar, insistir, emburrar, gritar, agredir e pode até tentar desobedecer ao que lhe foi imposto. É importante ficarem atentos em cada resposta que se dá a uma criança, pois ela poderá indagar sobre o porquê de não poder fazer tal coisa enquanto os coleguinhas podem, ou então fazer vários questionamentos a respeito do motivo pelo qual não se pode fazer aquilo naquele momento. Com isso, existe um risco muito grande em pronunciar a palavra “não” diante das insistências citadas acima, pois, os responsáveis podem perder a paciência com tanta insistência e por fim, cederem às vontades e desejos da criança. Dessa forma, ela poderá interpretar da seguinte forma: “se eu chorei, insisti e fiz tudo isso e ela acabou deixando, então é assim que funciona, sempre que eu quiser e ela não deixar eu vou agir assim”. E é a partir desse comportamento dos responsáveis que se dá inicio ao comportamento de “birra” em algumas crianças.

Quando os responsáveis agem dessa forma, com o passar do tempo algumas crianças vão se tornando intolerantes as frustrações, tal comportamento recebe este nome devido à criança não saber ouvir as palavras: “não”, “depois”, “agora não tenho dinheiro”. Com o decorrer do tempo a criança vai se tornando ainda mais insistente, “birrenta”, o que chega a uma condição em que pais nos procuram com queixas de que ninguém consegue ficar perto dos seus filhos, ou que estão passando vergonha nos lugares devido ao escândalo que a criança faz ao ouvir o “não”. 
Explicar o motivo do “não” tem grande importância no aspecto de aprendizado para a criança, pois, a intenção é fazer com que ela saiba que as coisas não são da maneira que ela quer. A finalidade desse processo de ensinamento é fazer com que a criança entenda que para tudo existe o seu tempo, a intenção é fazer com que ela tome consciência sobre as regras que existem ao longo da vida e, também adquira um conhecimento sobre os limites que no qual ela precisa respeitar.


O que fazer para que isso não aconteça?

       Os responsáveis devem esclarecer os motivos pelos quais não vão permitir com que a criança faça somente o que deseja. Devem também ficar atentos nos comportamentos da criança quando não autorizam que ela faça tal coisa, pois, diante de qualquer comportamento que ela apresentar que esteja fora do habitual, é importante sentar e conversar a respeito, explicar que mesmo chorando ela não vai fazer o que quer. É importante sempre mostrar quais são os limites e as regras que a criança deverá cumprir. 

        Tivemos a intenção de mostrar neste texto a importância de conversar com os filhos e esclarecer  suas dúvidas, uma vez que, a explicação dos responsáveis é fundamental para o futuro das crianças. Às vezes é doloroso para os pais utilizarem a palavra “não” com os filhos e, em algumas ocasiões eles mesmos percebem que não haveria problema algum ter dito sim, mas a fala deverá ser permanecida para que seja evitado que a criança no futuro, adquira o comportamento de "birra" e se torne intolerante à frustração.


Manuella Garcia Resende de Deus
Psicóloga (CRP: 09/9498) com ênfase em psicologia escolar pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Foi estagiária no Centro de Educação de Jovens e Adultos e no Instituto Federal Goiás - Câmpus. Cursa especialização em Psicologia Clínica pela Sociedade Goiana de Psicodrama (SOGEP). Atualmente é Psicóloga Clínica e Diretora do Programa Desenvolver - Projeto de extensão da Rede Goiana de Psicologia.


Marina Magalhães David
Psicóloga (CRP: 09/9789) com ênfase em psicologia escolar pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Cursa mestrado em Psicologia do Desenvolvimento Humano e Saúde pela Universidade de Brasília (UnB) e especialização em Psicologia Clínica pela Sociedade Goiana de Psicodrama (SOGEP). Atualmente é Psicóloga Clínica do Programa Desenvolver e Conselheira da Rede Goiana de Psicologia.


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