Em
diversas ocasiões nós nos deparamos com responsáveis de crianças
de diferentes idades com queixas de birras frequentes. Diante de situações que
se tornam constrangedoras, muitas vezes esses responsáveis ficam desesperados por
não conseguirem agir diante de tal circunstância.
Inicialmente
é importante descrever o termo “birra” de forma objetiva. De acordo com os
dicionários, a birra é caracterizada por ser uma insistência em permanecer no mesmo comportamento, na
mesma opinião ou ideia, algo que contraria alguém.
O termo
“birra” costuma ser bastante utilizado em nossa sociedade. Ele é utilizado para
descrever comportamentos de crianças que não aceitam aborrecimentos, que talvez
não consigam ouvir o que é negativo para elas no momento, ou seja, a birra é
considerada como uma intolerância a frustração.
O que leva
as crianças obterem tal conduta?
Muitas
vezes, quando a criança quer ganhar algo, ou quer fazer com que os responsáveis
façam algo por ela, elas costumam pedir de maneira normal. Às vezes, os pais
condicionam a criança a ter o comportamento da birra sem ao menos ter ideia do
que estão fazendo. Vamos entrar em mais detalhes através de um exemplo a seguir:
Quando a
criança quer conquistar algo dos pais, inicialmente tem o costume de pedir,
pode ser algo bobo como brincar na porta de casa com os amigos. No momento em
que a criança diz: “posso brincar lá fora?”, algumas vezes os pais vão dizer:
“não”. Quando a criança ouve o “não”, a tendência é insistir para que o responsável
permita, pois foi dito apenas o “não” de forma solta, sem nenhuma explicação
dos motivos pelos quais não se é para ir brincar fora de casa.
Certamente a criança irá utilizar voz manhosa, vai ser insistente
fazendo pedidos incessantes, ou seja, ela vai fazer o que for
possível para alcançar tal objetivo. Após esse tipo de comportamento, o que
temos visto na maioria das vezes são responsáveis que não aguentam
tanta insistência e por fim acabam dizendo: “tudo bem, então vai.”.
Esses tipos
de conduta que alguns pais ou responsáveis apresentam,
inicialmente surtem um resultado positivo para elas, onde a criança interrompe
suas insistências já que o objetivo que consistia em "brincar lá fora"
foi alcançado. E depois, o que acontece?
Ao
proferir a palavra "não" a uma criança, os responsáveis devem estar
cientes das possíveis consequências que poderão surgir a partir
de tal resposta e manterem-se firmes. A criança poderá chorar, insistir, emburrar, gritar, agredir e pode até tentar desobedecer ao que
lhe foi imposto. É importante ficarem atentos em cada
resposta que se dá a uma criança, pois ela poderá indagar sobre o porquê de
não poder fazer tal coisa enquanto
os coleguinhas podem, ou então fazer vários questionamentos a respeito do motivo pelo
qual não se pode fazer aquilo naquele momento. Com isso, existe um risco muito
grande em pronunciar a palavra “não” diante das
insistências citadas acima, pois, os responsáveis podem perder a paciência com tanta insistência e por fim, cederem às vontades e desejos da criança. Dessa forma, ela poderá interpretar da seguinte forma: “se eu chorei, insisti e
fiz tudo isso e ela acabou deixando, então é assim que funciona, sempre que eu
quiser e ela não deixar eu vou agir assim”. E é a partir
desse comportamento dos responsáveis que se dá inicio ao comportamento de “birra” em algumas crianças.
Quando os responsáveis agem dessa forma, com o passar do tempo algumas crianças
vão se tornando intolerantes as frustrações, tal comportamento recebe este nome
devido à criança não saber ouvir as palavras: “não”, “depois”, “agora não tenho
dinheiro”. Com o decorrer do tempo a criança vai se tornando ainda mais
insistente, “birrenta”, o que chega a uma condição em que pais nos
procuram com queixas de que ninguém consegue ficar perto dos seus filhos, ou
que estão passando vergonha nos lugares devido ao escândalo que a criança faz
ao ouvir o “não”.
Explicar o motivo
do “não” tem grande importância no aspecto de aprendizado para a criança, pois,
a intenção é fazer com que ela saiba que as coisas não são da maneira que ela
quer. A finalidade desse processo de ensinamento é fazer com que a criança
entenda que para tudo existe o seu tempo, a intenção é fazer com que ela tome
consciência sobre as regras que existem ao longo da vida e, também adquira um
conhecimento sobre os limites que no qual ela precisa respeitar.
O que
fazer para que isso não aconteça?
Os
responsáveis devem esclarecer os motivos pelos quais não vão permitir com que a criança faça somente o que deseja. Devem também ficar atentos nos comportamentos da
criança quando não autorizam que ela faça tal coisa, pois, diante de qualquer
comportamento que ela apresentar que esteja fora do habitual, é importante sentar e conversar a respeito, explicar que mesmo chorando
ela não vai fazer o que quer. É importante sempre mostrar quais são os limites e as regras que a criança deverá cumprir.
Tivemos
a intenção de mostrar neste texto a importância de conversar com os filhos e
esclarecer suas dúvidas, uma vez que, a explicação dos responsáveis é
fundamental para o futuro das crianças. Às vezes é doloroso para os pais utilizarem a palavra “não” com os filhos e, em algumas ocasiões eles mesmos percebem que não haveria problema algum ter dito sim, mas a fala deverá ser permanecida para que
seja evitado que a criança no futuro, adquira o comportamento de "birra" e se torne intolerante à frustração.
Manuella Garcia Resende de Deus
Psicóloga (CRP: 09/9498) com ênfase em psicologia escolar pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Foi estagiária no Centro de Educação de Jovens e Adultos e no Instituto Federal Goiás - Câmpus. Cursa especialização em Psicologia Clínica pela Sociedade Goiana de Psicodrama (SOGEP). Atualmente é Psicóloga Clínica e Diretora do Programa Desenvolver - Projeto de extensão da Rede Goiana de Psicologia.
Marina Magalhães David
Psicóloga (CRP: 09/9789) com ênfase em psicologia escolar pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Cursa mestrado em Psicologia do Desenvolvimento Humano e Saúde pela Universidade de Brasília (UnB) e especialização em Psicologia Clínica pela Sociedade Goiana de Psicodrama (SOGEP). Atualmente é Psicóloga Clínica do Programa Desenvolver e Conselheira da Rede Goiana de Psicologia.
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